Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é
Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br
O particular só não seria transmitido en directo para Lisboa e Porto. Bancadas compostas. Recorde de bilheteira.
Sítio lotado, a aguardar a saída da equipa do local de reclusão. Os seleccionadores anunciam as convocatórias,
enquanto as equipas saem do balneário. Festa encarnada. Delírio celeste. Começa o amigado. O distribuidor do seleccionado encarnado dá
uma fífia e não alcança o avançado.
Na seqüência, o elemento nuclear do
Benfica rola o esférico. Que grande cueca! Os adeptos ensandecem. O sítio quase vem a baixo. Que bestial! Ah!
Se fosse na meia final do puramento!
Ninguém seguraria essa equipa! Entretanto, o distribuidor do Porto está
inerte a ajustar as peúgas. O defesa, no afã de deslocar o ataque, chuta o esférico,
vindo em ula, ula, em direção ao golo.
Por pouco não atira contra. É pontapé de canto. A massa adepta se levanta das bancadas. O esquerdinha
bate, mas não acerta nigues.
Só resta ao guarda-redes cobrar o pontapé de baliza. Entretanto, num
remate à meia volta, o camisola 10 do Benfica faz uma cabrita e acerta o adversário, um defesa cambuta. Recebe uma admoestação com a cartolina. Quem pensou
que seria pêra doce cometeu uma equivocação. Não está nenhuma bojarda. A bancada da claque encarnada grita em delírio. Novamente
o avançado rouba o esférico por entre as pernaças do distribuidor da equipa celeste, põe em
dissensão os esquerdinhas e, num cabeceamento
espetacular, cruza a barra de baliza.
Sem chances para o guarda-redes do
Porto. Das bancadas compostas vinha o
grito de golo. De súbito, tristura absoluta. A claque
da equipa encarnada emudece: o fiscal de linha interdita o golo. Marca o fora-de-jogo do camisola 7. Na súmula faz constar apenas pontapé de baliza. De pronto ouve-se a assobiadela da claque. Sarrilhos a vista. É o bastante para o camisola 10 da equipa
encarnada se irritar, chamar o arbitrador
de cagarola e expurtar de
lado. Agravo registrado. Outra admoestação com cartolina e estava fora
do relvado. Cumpriria, por isso, desafio de castigo. Não estaria mais habilitado
a disputar uma negra. É a zina.
Começa o barulheiro nas bancadas. A zaragata estava armada. O riso gaio dos mancebos,
das raparigas e dos putos, que gaseavam para assistir ao
torneio, arrebatadamente se dissipa. As beguinas
circunspectas arrenegam o
combate a alegar fedifrago. Chamar aquilo de conflicto era gabo!
Muitos adeptos vão parar na esquadra de
polícia, especialmente
a malta encarnada.
Sem encontrar outra saída, apita o arbitrador.
Fim do amigado. Que não foi lá tão amigado assim! Ora pois! Quem perdeu essa partida ainda pode recorrer ao en diferido. Depois disso, só nos resta
assistir do maples à transmissão da conferência de
impressa, na estação RTP, no intervalo do folhetim
em antena:“A Escrava Izaura, sucesso de audiência no Brasil e em Portugal
da adaptação para a TV da obra do grande escritor mineiro, estudante em
Uberaba, o célebre Bernardo Guimarães.
Para
quem pensa que pode ir a Portugal assistir ao esporte mais globalizado sem um traduzidor disponível, uma advertência:
para não ficar tartamudo na terra de
nossos primeiros colonizadores, é melhor fazer um “intensivão” antes do
embarque. Mas se o tempo está curto e a
licença por escrito já foi liberada, aguarde a tradução na próxima edição
desta coluna.
Artigo publicado no Caderno "I", Coluna " Opinião" , Edição de n• 6065 do Jornal de Uberaba, p. 02, em 12-12-06.
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