Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística
e Língua Portuguesa pela Unesp.
aya_ribeiro@yahoo.com.br
Sempre gostei de ler e de brincar com as palavras e confesso que não há
nada que me encanta mais do que mergulhar nessa sopa de letras, nesse universo
mágico de símbolos que se transformam em signos e vão mudando seus sentidos como
já disse Nietzsche, num movimento de escavação ad infinitum. Isso mesmo, em itálico,
esse realce foi feito originalmente em uma obra de do poeta Virgílio, por
um italiano chamado Aldo Manutius em homenagem a sua pátria. Descobrir por que
nomes de lugares viram coisas ou o que leva os nomes próprios a perderem sua
identidade inicial para se tornarem comuns sempre me fascinou. Se prestarmos
mais atenção às palavras que proferimos dia-a-dia, certamente faremos uma
viagem diferente e conheceremos lugares inimagináveis. Já era balzaquiana quando descobri o quanto
Honoré de Balzac, na França, fez um
bem enorme às mulheres de 30, quando exaltou a feminilidade das mulheres
maduras. Foi exatamente nesse momento de minha vida que percebi que a água-de-colônia era muito mais do que
um perfume, feito por um monge na cidade de Colônia na Alemanha, mas uma água milagrosa que revigora qualquer
alma feminina. Mesmo aquelas que levam uma vida espartana. Na Grécia, em Esparta,
ou em qualquer outra cidade do mundo. Há coisas além do perfume, que mulheres,
de todas as idades, de todos os lugares, não dispensam, biquíni e champagne, por
exemplo. A criação ousada do estilista francês Louis Réard, tão explosiva
quanto os testes nucleares nas ilhas de Bikini,
hoje é tão comum quanto a bermuda,
peça alternativa para as pobres mulheres proibidas de freqüentarem com as pernas
expostas um balneário no Arquipélago
de Bermudas, no Caribe, na década de 30. Claro que se desobedecessem
estariam na berlinda por muito
tempo, mesmo que nunca tivessem ido a Berlim,
na Alemanha, lugar onde se usavam berlines
para que os nobres circulassem e fossem vistos pelo povo, em carruagens com
vidros nas laterais. Imaginem, então, o que seria dessas mulheres se ousassem
tomar o borbulhante vinho feito pelo monge Don Perignon na região de Champagne no nordeste da França! Isso era
coisa para Boêmios, outrora os
ciganos da Boêmia, chegados a
noitadas e bebedeiras. A Bíblia,
coleção de livros sagrados escritos em papiros importados de Byblos, uma antiga cidade fenícia, hoje
Gebal, na Síria, recomenda que mulheres não devem se embriagar com o produto da
videira. Sendo assim, não devem tomar Xerez,
vinho feito pelos espanhóis de Jerez, ou Sherry, para os ingleses que importam essa bebida desde o século
XI, quando os árabes, depois de invadirem a península ibérica, mudaram o nome
de Jerez para Sheriz. Mesmo não sendo fruto da vide, creio que também não é
recomendável tomar a destilada Steinhager,
bebida popular, fabricada com frutinhas de zimbro esmagadas com grãos de
trigo, na aldeia de Steinhagen, na
Alemanha. Mas às mulheres cristãs uma coisa não é proibida, é, ao contrário,
estimulada: fazer romaria. Aquela excursão
de fiéis, que inicialmente se dirigia a Roma,
sede da Igreja Católica, e hoje são peregrinações a qualquer lugar que seja
objeto de devoção. E olhe que essas viagens não precisam necessariamente ser
feitas a pé, podem ser até de transatlântico.
Mesmo que o destino esteja além de qualquer oceano que não seja o Atlântico, oceano cruzado pela primeira
grande embarcação que saiu de Savannah, na Geórgia, EUA, com destino a
Liverpool, na Inglaterra. Mas, acreditem, isso não foi nenhuma maratona. Maratona mesmo foi o que fez
o valente soldado grego Fidípedes, ao percorrer os 42, 195 km que separavam Atenas
da cidade de Maratona para anunciar
a Nike dos gregos sobres os persas.
Não entendeu patavina? Explico: não
é nenhuma poderosa marca de tênis feita para os mais fenomenais atletas. É
vitória em grego. E
patavina fica mais próxima do
mediterrâneo, na Itália, em Pádua, cujo nome em latim é Patavium. Como os
portugueses dificilmente entendiam o latim falado pelos mercadores de Pádua, diziam
que não entendiam nada, ou não entendiam patavina.
Fico pensando que talvez seja por isso que os gregos, mais precisamente os espartanos, que ocupavam a Lacônia, ao sul da Grécia, preferissem
falar pouco, ou laconicamente. Falar grego, para nós brasileiros, também
é sinal de não ser entendido não é mesmo? Agora, peço licença, não vou sair à francesa, pois devo demorar
alguns dias para voltar. Não vou à França
como desejaria, para tomar um café com Chantilly,
de preferência no castelo com esse nome. Creio que depois dessa viagem
inusitada, no reino insólito dos sentidos das palavras, mereço relaxar em um SPA. Quem me dera fosse na Bélgica, nessa cidade
cheia de fontes com águas medicinais, hoje até pode ser em qualquer lugar,
antes que eu vá pra cucuia, o
indesejado Cemitério da Cacuia, bem mais perto, logo aliiiiii, no Rio de
Janeiro.
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