segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Na gramática da escola cidadã todo verbo é transitivo, todo sujeito é composto



Ormezinda Maria Ribeiro-Aya
Dra em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp


“Eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa”
(Guimarães Rosa)


RESUMO

O presente ensaio apresenta, com o emprego de verbos conjugados de uma forma metafórica, uma reflexão sobre o(s) sentido(s) da Escola Cidadã, com vista à percepção da educação como o desafio ao impensado, ao não planejado ainda, ao não decidido, ao “a ser construído por todos".
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INTRODUÇÃO


Educar, pensar e agir

Não há como falar em Escola Cidadã sem lembrar Paulo Freire, para quem educar é impregnar de sentido cada ato do cotidiano.
Com esse gancho, inicio esse exercício de produção de um texto que se propõe a tecer algumas conjugações possíveis no campo da educação. A terminologia gramatical é empregada não para explicar a língua e suas articulações, mas como figura metafórica, para, numa metalinguagem figurativizar as ações possíveis e desejáveis em uma Escola Cidadã, entendendo que a Escola Cidadã é toda aquela que permite as relações abertas e igualitárias de poder.
Pensar em uma escola que garanta a manutenção da cidadania, não como um lugar em que se adquira a cidadania, deveria ser o objetivo precípuo de toda e qualquer instituição, seja ela pública ou privada, do primeiro ou do terceiro setor. Mas pensar simplesmente não basta, é preciso agir em prol desse fim. Pensar e agir. Verbos essenciais e necessários à conquista da manutenção da cidadania via escola. São verbos de ação. Ação que demanda participação.
Para que essa proposição seja tomada como valor de verdade (pelo menos dentro da provisoriedade das verdades) há que se perguntar: qual o objeto da Educação na vida presente e na vida futura que nos cabe conjugar para pensar e antecipar as possibilidades de uma escola cidadã?
Qual o lugar da Educação no processo de manutenção das condições de cidadania?
Com essas indagações rascunharemos algumas conjeturas a respeito desse tema que está longe de ser esgotado e passível de ser polemizado. Vamos a ele.
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Criar, criticar, participar

Antes de tudo é premente ter a coragem de encarar o desafio de olhar com outros olhos as possibilidades de conjugações da educação para descobrir interligações, interconexões e intercomunicações onde parece haver hiatos e intransitividades.
Há que se ter uma clara consciência das regências dos verbos "criar", "criticar", "participar", para que sua concordância com os sujeitos da educação seja privilegiada. Nesses três verbos está contida a alma da Escola Cidadã.
À guisa de definição, em busca de uma metalinguagem apropriada à questão que ora proponho, explico: criar é dar vida, é possibilitar a erupção do novo, ou de uma nova forma de ver o já conhecido. Para se possibilitar a manutenção da cidadania é preciso conjugar saber com aprender como algo vivo, dinâmico, irrepetível, que pede sempre um complemento; criticar é ação de repensar o que está posto, sem se condicionar ao suposto. Trata-se de subordinar as ações pressupostas à imaginação crítica e ao desafio do impensado, de modo a suplantar as ditas verdades absolutas e cristalizadas; participar, nesse sentido, é verbo de ligação que visa estabelecer o liame entre o potencial criativo e a ação criativa que devem ser construídos por todos: é locução verbal e depende de sujeitos compostos.

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Tempos e modos verbais da Escola Cidadã

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