Ainda garoto, levei uma taboa, nos idos de 1930. Eu era um almofadinha, pé rapado, liso que nem pau-de-sebo. Fiquei jururu. É fato, mas jurei me tornar um figurão abonado pra nunca mais ouvir uma ladainha daquela lambisgóia. Fiquei quase uma década me recuperando dessa malfadada sorte. Depois resolvi recobrar o tempo perdido e correr atrás de um brotinho, um chuchu que conheci em um desses balangandans que freqüentava na época. Convidei aquela tetéia para assistir a uma chanchada, a coqueluche do momento. Foi a maior fuzarca. O pai dela não gostou nem um pouco. Levei uma carraspana. Só me esqueci desse bafafá dez anos depois. Tomei um chá de cadeira sem igual. Não seria fácil paquerar aquela uva. Ela não se esqueceu do fuzuê. Eu já estava ficando coroa, mas ainda era pra frente e bacana paca, um tremendão. Além do mais, meu chapa, nos anos 60 eu não era nenhum pé de chinelo. Era um cara boa pinta, tinha um carango envenenado, um papo firme. Desses de fazer qualquer gata gamar. E uma coisa era certa não era pelego e nem cafona. Resolvi dar uma esticada e encarar uma boazuda. Estava a fim de uma gata barra-limpa e não era de mancar. Mas ela tirou onda no maior ziriguidum. Veio com aquele papo furado e eu, que estava naquela de pode vir quente que estou fervendo, curti a maior fossa. Mais 10 anos, Bicho, desisti da uvinha que a essas alturas já estava meio passada, um bicho grilo Não era mais um pedaço-de-mau-caminho. E eu anda era um pão. Não era de se jogar fora. Estava a fim de uma fofa. Numa boa, podes crer! Tentei fazer a cabeça dela. Que barra! Eu estava por fora. Ela não gostou da chacrinha. Entrei pelo cano. Foi chocrível: ela me chamou de goiaba e deu no pé. Já era. Enveredei pela política. Virei biônico, fiquei careta, o maior caxias. Deixei de ser aquele cara jóia que transava o amor no maior breu, curtindo adoidado. Nem tchum para as coisas do coração. Meu negócio era tutu, bufunfa, grana maneira. Entrei de bode nos anos 80, meio deprê, mergulhei naquele economês fajuto, preocupado com as patrulhas ideológicas, vendo a beleza passar no movimento daquelas minas de fio dental. Que massa! Como me senti brega! Chegaram os anos 90 e eu decidi acordar para a vida. Nas ruas, os caras pintadas faziam pressão. Já aposentado, por pouco levaria a pecha de boiola. As minas da minha galera viraram gastinhas. Embacei demais. Fiquei muito tempo pagando um sapo Vou entrar de sola em outra praia. Estou na área e vou lançar meu olhar quarenta e três, pensei. Antenado, quis deixar de ser um mala e parti para a azaração. Não queria mais queimar o filme. Descobri que ficar é o bicho. Chega de rolo e de encoleirar. Achei uma pitchula lipada e fui sintonizar o canal. Sou um animal. Estava convencido. Vestido como um mauricinho à procura de uma patricinha filé que me desse mole, fui chavecar. Não sou nenhum papa-anjo, mas resolvi jogar meu papo um-sete-um pra cima da primeira maria gasoza que me atravessasse. Estava disposto a liberar a verba. Que furo! Paguei o maior mico! Amarradão, encarnei uma ganzepa meio fubanga. A essas alturas da vida, Mano Brown, não poderia escolher muito. O que pode querer um velho rico e solitário? Também não estava a fim de nenhuma perua tranquera. Estava me sentindo assim fuderoso. Meio travado, entrei de sola, cheguei na popozuda. Escamosa, me chamou de tio sukita. O vacilão aqui ainda pensou que era elogio. Fiquei na pista. É mesmo o fim do século. Pirei na batatinha, quando um Lobão chegou de lado e mandou: “Ai, vei, valeu! Simbora que eu vou vazar com a cachorrona”. Aí já era demais! Outra táboa esse meu coração matusalém não agüentaria. Viajei no tempo... Fui!...
Artigo publicado no caderno "I", Coluna "Opinião", edição nº 6085 do Jornal de Uberaba, p. 02, dia 06/01/2007.
Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br
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