segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Palíndromos: uma história para se espelhar


A professora de Anna e Natan ensinou na escola o que são palíndromos. O nome soou estranho, mas resultou em uma brincadeira. Vamos dizer que é uma divertida viagem de ida e volta na palavra ou na frase. Os alunos, curiosos matutam: como seria viajar nas palavras? Não vale rir. Erro comum ocorre: Iracema não é palíndromo. É anagrama de América. Assim como Célia é anagrama de Alice, Eliane de Elaine e Dariane de Ariadne. Aproveitam-se todas as letras, mas não se lê de trás para frente com o mesmo sentido.

Não é frase espelho, com perfeição na simetria, nem se parece com a “serpente que morde a própria cauda”, como o palíndromo. Até mesmo o sério lingüista Saussure embarcou nessa brincadeira. Para encantar mais a turma, a professora resolveu fazer um desafio: “ramo do temor prometo domar.

Chega de provas com pontos decorados. - A nota me vem à tona. Vamos explorar a criatividade, o ingresso no círculo mágico das palavras". “Como”- Perguntou um dos alunos: “Só sei que meu QI é SOS”. –“É só ir a vários lugares que nos dê sol e selos, Edson, e voltar pelo mesmo caminho das palavras e frases, percorrendo sua linearidade. E você eco vê nesse ir e vir com os olhos, passeando pelas letras que se juntam e se organizam como se quisessem, elas próprias, encontrar a sua cauda, como uma aliança que não tem início ou fim.

Escrever e ler por prazer, não por obrigação. - Só, nem menos, nem mais. Age, vá, navega! Como uma Alice curiosa, Mergulhe fundo no reino espelhado das palavras. Zarpar apraz. - Alie-se, sei lá. Atreve, reverta. Faça acontecer. Dê vida às palavras, dê forma à imaginação”. Os alunos, ansiosos, anotaram a data da maratona e cada um, com um radar, passou a embarcar nessa viagem, a rever cada palavra escrita, a reler, cada palavra lida, a fim de merecerem a vitória.

A ala mirim adorou a idéia. O treco certo! Aplaudiram Oto e Raul Luar. Nessa hora "Irene ri", e só nós sabemos porquê. Afinal, o revés é severo. A dica ácida dos que vêem a educação como mera reprodução de modelos é inevitável. Assim, professora e alunos descobriram nessa divertida viagem que palíndromo é um eco doce, que salta o Atlas, que orar é verbo breve, raro, e que Metáfora farofa tem. Nesse jogo não se avista a torre da derrota. Todos ganham. Que bom que a escola de hoje não mais ensina por cartilhas. Foi-se o tempo em que alunos tinham que repetir: a babá baba. Ato idiota. - E cito idiotice.

Enquanto em Brasília a mala nada na lama (É de Fred: "o poder fede"), os professores, esses artistas, ensinam a ralar a anilina para a ver cor e graça na educação. "Aí, Zé, opa!". Isso não é palíndromo, mas quase: é a poesia de brincar com as palavras, de dar vida às letras. Isso é mágica de Guimarães Rosa. Luz azul!

As palavras e expressões com destaques são palíndromos por isso podem ser lidas de trás para frente mantendo o mesmo sentido.

Artigo publicado no Caderno I Coluna "Opinião" . edição nº 6105 do Jornal de Uberaba, p. 02, no dia 30/01/2006. In: www.jornaldeuberaba.com.br

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

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