segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Os nomes que fazem o brasil, Brasil


Muitos sabem que nosso país se chamou Brasil pela coloração cor de brasa de uma madeira nobre, da qual os índios extraiam uma tinta vermelha para pintar o corpo, chamada em língua tupi Ibirapitanga. Hoje ameaçada de extinção, mas outrora tão comum nessa terra Brasillis. Brasil, terra de vegetal, de pedras preciosas e de muitas águas também. Terra Pappagalli, Terra dos Papagaios.

Esse foi o primeiro apelido que o Brasil recebeu, assim que o navio que levava a notícia do “descobrimento” retornou a Portugal, carregado dessa colorida e espalhafatosa ave, entre outras coisas exóticas para os lusíadas. Ave que vivia aos bandos em Roraima, o Rorô-yma, monte dos papagaios dos índios caribe.

Terra de Amapá, ou catauá. Árvore leitosa e medicinal usada pelos mesmos índios caribe, encontrada em nossas matas espessas, nesse Mato Grosso, do norte ao Sul, perto das desejadas Minas Gerais, abundante em ouro e outros metais. Tão perto dos guaiá, tribo que habitava a região que hoje chamamos Goiás. E tão distante de onde vem o Ciará “canto da ave jandaia”, Ceará, lugar de homens fortes e superiores, exaltados pela tribo cariri. Tão perto de Rondônia, do grande desbravador Marechal Candido Rondon, quanto das Amazonas, tribo de mulheres aguerridas.

Não menos guerreiras que as lendárias mulheres da Antigüidade, que amputavam o seio direito para melhor manejarem o arco. As “amazos” da terra Brasillis lembravam as mulheres sem seios, habitantes das margens do Mar Negro. Amazonas, nome dado às muitas águas, como também é Pará, rio caudaloso em tupi, que junta o Amazonas com o Tocantins, o “bico de tucano”.

Tucan-tin para os índios tupi, que viviam junto à foz desse rio. Brasil, terra de tantos rios, de um extremo ao outro, o Rio Grande do Norte, próximo ao Oiapoque, e o Rio Grande do Sul, canal que liga a lagoa dos Patos ao oceano, mais perto do Chuí. Rio, “parente do mar”, do tupi para´nã. Semelhante ao mar. Como Paraíba, rio pouco navegável, pa´ra aiba, ou mar ruim. De tão difícil acesso quanto o Maranhão, “corredeira” no dialeto nheengatu, mara-nhã, com origem no tupi mbarã-nhana. Certamente foram as corredeiras que, para a tribo tupi, fizeram o buraco nas pedras por onde passam as águas salgadas perto da Ilha de Tamaracá, em Pernambuco, o mar que arrebenta, para´nãpu´ka. “Na boca do rio Aquiri”, do qual deriva Acre, Uakiry, no dialeto ipurinã. Rio dos siris, no Sergipe, si´ri-´ y-pe, o rio das piabas, no Piauí: Piaba’y, entre tantas lagoas. Na terra de Alagoas.

Tanta água como uma Bahia, a Bahia da Guanabara, encontrada em primeiro de janeiro, e confundida com um imenso rio, um Rio de Janeiro. Assim como a Bahia de Todos os Santos, batizada com esse nome por ter sido vista em primeiro de novembro e comunicada ao rei de Portugal pelo italiano Américo Vespúcio.

Brasil de tanta devoção. Que, num domingo do Espírito Santo, criou a primeira vila, a Vila Velha, no estado que leva o nome de uma das pessoas da Santíssima Trindade. A mesma devoção que levou Francisco Dias Velho a erigir uma igreja em honra de Santa Catarina e graças a ela um estado que recebeu nossos irmãos açorianos.

Como também em honra a outro santo, o apóstolo São Paulo, foi fundada a primeira vila do planalto paulista, pelos lados de Piratininga. Tanta fé nesse Brasil, que o visionário Dom Bosco vislumbrou em seu árido e místico Planalto Central a nova capital. Brasil que gerou Brasília, construída pelos filhos desse Brasil de tantos nomes, de tantas águas, de tantas riquezas...

Brasil, nome de vegetal.

Artigo publicado no Caderno I Coluna "Opinião" do Jornal de Uberaba , p. 02, no dia 07/02/2007. www.jornaldeuberaba.com.br

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

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