Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Linguística
e Língua Portuguesa pela Unesp.
aya_ribeiro@yahoo.com.br
Estou de volta, tive meu merecido descanso. Viajei bastante, não no
sentido denotativo da palavra, mas viajei à minha moda: lendo muito e
assistindo a vários filmes. Nem precisei de um sedã, um tipo de automóvel, criando na antiga vila francesa com esse nome. Para curtir a meca dos cinéfilos, não é necessário uma peregrinação à Meca, a cidade natal do profeta Maomé.
O ponto de convergência de quem curte filmes ainda é Hollywood, a meca do cinema. Assim como Milão é a
meca da moda. Mas posso assistir aos clássicos hoje sem sair de casa. É só
ligar para a locadora e fazer a lista. Haverá sempre alguém de moto ou de lambreta para trazer em minha casa o
passaporte para minha viagem favorita. Depois dos livros, é claro! Pode parecer
jurássico aos mais jovens falar em lambreta, mas é que, ao falar em Milão,
veio à minha mente Lambrate, um
distrito dessa cidade, onde a família Innocenti fabricava as pequenas
motocicletas que adotaram o nome da cidade com o diminutivo etta.
E por falar em diminutivo, “As viagens de Gulliver” me levaram a Lilipute, a ilha imaginária criada pelo
escritor inglês, Jonathan Swift, para ambientar seu livro. Ali, tudo era
diminuto, os habitantes mediam apenas 15 centímetros .
Quando essa malta que insiste em me
diminuir atribuindo a mim e as coisas que faço o adjetivo liliputiano, ao contrário do que pensam, fico lisonjeada. Vou fundo
na etimologia e me defendo: Lilipute
é terra nobre, diferente de Malta, ilha
do Mediterrâneo que depois de ser invadida por bárbaros, foi freqüentada durante
muito tempo por piratas, passando a ser vista por outras nações como terra de
grupos criminosos. Se liliputiano é adjetivo
para gente pequena, certamente não tem nada a ver com malta, gente má, de baixa índole, que vive de usurpar bens e
direitos alheios. Às vezes, armados de baioneta,
arma criada por contrabandistas franceses, em luta contra os espanhóis, próximo
à cidade de Baiona. E, muitas vezes,
sem armas, como beócios. Usando a
ignorância como arma letal, a exemplo dos agricultores de Beócia, lugar da Grécia onde ninguém sabia ler, apesar de estarem
no berço da cultura e da filosofia. E isso, quero registrar, nada tem a ver com
o mongolismo, como muita gente beócia ainda insiste em acreditar. Esses
despreparados relacionam a Síndrome de Down devido à aparência semelhante aos
dos habitantes da Mongólia, país
asiático liderado pelo guerreiro Gengis Khan. Na verdade, quando pensam estar
depreciando os portadores da síndrome, estão é fazendo um elogio: mongol significa, na língua de Gengis
Khan, “valente, bravo, ou invencível”. O que de fato são essas pessoas, criadas
em meio à discriminação e educadas em meio ao despreparo da sociedade e de
muitas escolas. São exemplos de luta e de valentia para fugir do estigma e
mostrar que é normal ser diferente e de que o slogan “educação para todos” não
pode ser frase de efeito apenas para
inglês ver.
A propósito, jurássico refere-se
aos primeiros fósseis de dinossauros que habitaram a Terra na era mesozóica,
descobertos pelos arqueólogos em 1829, na cadeia de montanhas Jura, que divide a Suíça e a França.
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